Referência mundial em inovação

Percebemos: apesar de fazer inovações, a Delphi Brasil, diferente de outras unidades da empresa em outros países, não possuía patentes de inovação. A empresa deixava de ganhar competitividade no mercado brasileiro e ainda recebia - da sede global - verbas bastante enxutas para P&D.

Idealizamos: um projeto para o reconhecimento internacional da empresa como um polo de inovação. Reestruturamos seus processos para adequá-los às exigências da Norma de Inovação.

Construímos: provocamos um salto em competitividade. Hoje a Delphi Brasil é responsável por 10% do faturamento global da empresa. Com geração de patentes de dar inveja a muitos centros de P&D, a empresa ampliou a gama de projetos que aumentam sua competitividade e a qualidade dos componentes nacionais de carros. Com o reconhecimento também cresceu a credibilidade e acessibilidade às verbas globais de inovação.


Gábor Deák, presidente da unidade brasileira da fabricante de componentes automotivos Delphi, diz que sempre sentia uma pontinha de ciúmes quando visitava a sede Global da empresa, situada em Troy, pequena cidade no estado de Michigan, nos Estados Unidos. O motivo era uma parede coberta com placas que comemoravam as patentes conquistadas pelas subsidiárias da companhia. “Havia produtos inovadores da Índia, da China, dos EUA, mas nenhum do Brasil”, afirma.

A Delphi brasileira até conseguia apresentar tecnologias novas – foi uma das principais responsáveis pelo desenvolvimento dos motores bicombustíveis, por exemplo – mas, por alguma razão que Deák ignorava, os produtos não eram devidamente reconhecidos pelo grupo. Algo precisava mudar.

A saída encontrada para sensibilizar a matriz chegou à Delphi por meio da Pieracciani e atende pela sigla de ABNT 16.501. Trata-se da norma criada pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) com o objetivo de gerir processos inovadores dentro das empresas nacionais. Valter Pieracciani, sócio fundador da Pieracciani, foi membro da comissão que criou a 16.501.

A Pieracciani foi a primeira consultoria brasileira a enquadrar empresas à Norma. Com um amplo trabalho de redefinição de processos para enquadrar companhias à nova Norma, a Pieracciani fez da Delphi a primeira empresa brasileira a conquistar o selo.

“Alguns executivos vindos da Alemanha ficaram perplexos quando perceberam que estávamos dentro de um padrão mundial de qualidade na inovação”, diz Deák. Após a certificação a resistência da matriz aos produtos nacionais diminuiu. Logo algumas placas brasileiras passaram a adornar as paredes do quartel-general da Delphi.

Mais do que aumentar o prestígio e garantir seu lugar no paredão de inovações do grupo, a certificação implantada aumentou a força da Delphi brasileira na competição por verbas extras na matriz para as áreas de Pesquisa e Desenvolvimento. Mais dinheiro em pesquisa significa maior velocidade de lançamentos, algo vital num setor onde novidades pipocam a cada minuto.

E a indústria ainda passa pelo dilema de oferecer produtos mais baratos com tecnologia superior. Como superar essa contradição? A aposta da Delphi é a engenharia frugal. São soluções simples e de baixo custo, mas que geram resultados similares os de produtos mais caros.

A adoção da Norma da Inovação ajudou a aperfeiçoar o uso da engenharia frugal dentro da empresa. A Pieracciani identificou, por exemplo, uma falha na forma como a ideias criativas eram discutidas. As conversas eram muito quadradinhas, conservadoras. A partir desta constatação, foi ampliado o uso de uma metodologia conhecida como Triz (Teoria da Solução Inventiva de Problemas, na sigla em inglês), a mesma usada pela Nasa em diversos programas espaciais. “Tentamos o tempo todo criar ideias divergentes, fora da caixa, até termos aquele momento do Eureca. Só a partir daí o convergimos para a realidade de mercado”, afirma Flávio Campos, diretor de engenharia da empresa.

No período de um ano após a implantação da Norma três novos produtos inovadores já haviam sido lançados pela empresa. E a Delphi segue criando produtos à lá Steve Jobs: antes que os clientes percebam que precisam deles.

Este case é uma síntese de matéria publicada na revista Exame.


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